terça-feira, 12 de abril de 2022

 

Era ainda manhãzinha e já ela traquinava, revolvendo uma terra com a qual se confundia na cor e nos sulcos que a idade lhe cavara.

Pensei: - Que vida sem descanso, sem marido, sem ninguém! Arrancar umas batatas, ou criar duas ovelhas, justificará esta canseira? Eu, por mim, apaparicava-a, dava-lhe a vida que não tivera…e matava-a, sim, porque roubar-lhe o que sempre conheceu seria sufocá-la num meio onde o ar rarefeito só entrava ao mando de uma dama directora. Julgando compensá-la, ia apenas enterrá-la antes mesmo de ter morrido. Então, como pagar tanto, mas tanto, que lhe devo?

Se sou o que sou, independente, sem compromissos, liberto de sujeições, a ela tudo agradeço, pois enquanto eu medrava, física e mentalmente, o leite me amamentou e a comida sempre a horas, quando me fiz aos estudos. Quem é, senhores pensantes, na verdade superior?

Filósofos, cientistas, arrivistas feitos políticos, onde iríamos ter ideias se faltassem estes humildes a quem vêm explorando século após século, assumindo atitudes de demiurgos iluminados?

A terra é generosa, mas nas mãos muito calosas que a arejam, semeiam, fecundam, acorrendo se tem sede, adubando se tem fome.

Parece que chegou o momento de parar, refletir e mostrar gratidão.

Eles passam bem sem nós, nós, sem eles, é que não.

quinta-feira, 9 de novembro de 2017




Expressão de ideia ou sentimento
a poesia deve
incisiva e breve
fixar o momento
em palavras exactas
nada de galas caricatas
floreados subtis
O que diz
tem de ser feito
descarnadamente
sem outro efeito sobre a gente
que não seja
voz que troveja.


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Que o meu grito seja de granito,
e raiva na palavra a gravar:
          Vive-se no nojo
          mas não se trai.
Se a carne viva não vos faz pensar,
          puta que vos pariu.



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Como se nada houvesse faz-se
poesia de salão poesia de alcova
e a submissão renova a vassalagem nova
porque em vantagem irmão não chora irmão
haja razão ou não

eu sou logo existo logo como
grande é o risco de enfurecer o dono



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As palavras que escolho
muito nos dizem ainda
limpas da baba dos outros
que as conspurcam

Difícil é uni-las
sem regras comuns
numa fala só minha


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Só se escreve uma obra
o resto é exercício
e basta para assinalar uma vida
se a obra não for sua
mas de todos.


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Não me peçam para pisar alguém
abusar do que se sabe ou tem
ressumar importância
ser chefe
Basta-me a mim
ser todo igual aos outros
onde respeito houver
ser útil e servidor
em quanto disser fizer
Sou fraco bem sei
mas antes homem que fera
ou predador por função



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Eu próprio cheiro um pouco a gato meio selvagem
e agrada-me assim ser
tão pouco eles exigem no gozo de viver
comida algum carinho saída franqueada
O homem complicou-se pretende muito mais
e busca descobrir quanto não tenha dito
mas nunca em cavalgada num mundo bem finito
que a avidez do ter não casa com o sonhar
O brilho só seduz as pegas e pavões
Cabeças mais voláteis ou simplesmente anões
                                                                     mentais



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Aquém de mim não posso
aquém de mim não quero
pouco que seja sempre é melhor que zero
e o que se tem é nosso

se o fogo não aquece por pequeno
e a noite é mais escura sem ter luz
a cinza vem dos ramos que ali pus
e fertiliza o terreno

fique comigo a fé
que haja um dia o dia
em que o ser é ser
e não seria



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Como se a mão fosse além,
habitavam-me céus
fontes
e flores imarcescíveis
os sonhos jamais seriam impossíveis,
nem cria em horizontes sem
vermelhos sóis.
Que ninguém se adentrasse montes fora
sem que com ele estivesse também,
ombro a ombro,
fosse qual fosse a sorte.
Não, não se temia a morte
o que importava era assombro
de criar o futuro,
fazer na pedra uma lavra
ver razões para além dos erros.
Rios, valas, vales, cerros
transpunham-se sem medo
e as alegrias viviam-se
ainda quando cedo se tombava.

Mas, no escuro, as ratas,
finas no cálculo, exactas,
estavam minando o chão,
numa cobrição de peste.
E, ao lume da manhã que vinha já,
a praga investe,
aí está,
uma vez mais consentida,
sujando, apodrecendo a vida.



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Fazer um arco da palavra certa
e caminhar por dentro
rumo ao não dito

Gritar à porta aberta
e pôr no centro
um traço de infinito

Antecipar o tempo que tardou
e ser-se vida a vir
antes de o ser

Era vencer o espaço em voo
abraçar-se ao provir
viver para não morrer



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Onde o céu se abria prometendo um levante
a terra regelou
não há mais quem plante
e o que houve passou
Que tempos de fome os nossos
tempos negros




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Eram tempos de frio e de geada
mas pensava-se para lá do desespero:
Na terra transida e desfolhada,
sentia-se pulsar o fruto inteiro.

A queda hibernação tinha sentido.

Só que, alheia nos baldões da história
e à fome de quem espera,
não veio,
não veio a primavera.



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Lúcido
na impotência e raiva
mais ainda quando
a saída é afinal o nada
Dos poucos vivos que persistem vivos
só esses vão assomando às ruas
pois por agora
lúcido é não esperar tão cedo.



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Está morrendo comigo a geração ingénua
que sonhou entre sonhos
sem decepção
éramos nós futuro do futuro
e viver tinha sentido
agora não
o mundo rola rola
mas sem razão.



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É tristeza a vida ser só isto
um adiar da morte
num desfazer de tudo

quando bastava um nada de imprevisto
um rio a norte
um corpo ao sol desnudo




  
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Tinham palavras e diziam esperança,
se a tirania bloqueava estradas,
porque subiam ao cume das ramadas
e de lá viam uma campina mansa.

Punham nos céus, em gesto, a confiança,
indiferentes às balas disparadas,
e desfraldavam bandeiras encarnadas,
sorrindo aos seus sonhos de criança.

Aventureiros foram tão da luz
que deixavam o pão, se tinham fome,
e bebiam do mar, se sede havia.

Donos de si, de noite e dia.
frágeis no corpo mas ousadia enorme,
vestiam-se de grandeza, quando nus.




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Nem a rocha o domara
ínvio em paredões graníticos
revolto e anárquico
o rio
Imperceptível quase
os olhos presos na voragem
forjando um sonho mais
o homem
Depois
          acção
carreiros de formigas matinais
carradas de betão e vigas de aço
geometria razão
da fundação ao espaço
abraço férreo à montanha virgem
vertigem
          tensão
                    pulsar
crepitação no ar
através de cabos retesados
minas herdades cidades oficinas
vida esfuziante sobre e sob a terra
a guerra
de ser pensante




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Em chão azul
em que os pés nunca tocam
trinos perlados a subir verticais
desenhando no alto
os imensos futuros

Do vale muito fundo
aos espaços abertos
as ovelhas tasquinham
alheias aos sons
de faunos de pedra
que juntos chegaram
e justos esperam
o dia




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Antes de se medir o nada em anos luz
o homem foi
criatura de Deus
centro do universo
criador de futuros
cristos mártires
sinfonistas surdos
geómetras da razão
acreditou-se então
que o sonho era possível
brilho nos olhos e sangue de vontade
povos uniam povos
demorados alguns
mas sempre certos.

Depois foi a traição larvar
desfiguração grotesca
o renascer da besta
e o homem volta a caminhar curvado.




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Colombo não acertou errando,
digam-no apaches, seminolas, sioux
digamos nós, os índios em tempos de hoje:
pistoleiros de mísseis e a riqueza do mundo
querem seu o petróleo,
e matarão sem dó como estão matando,
e essa é a história sua
só que a escala maior.
Nós, cobardemente encolhidos,
fingimos não ver o hoje de um pré-Munique.




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Labutador desde sempre
pouco ou pouco mais conhece dos prazeres da vida
e agora
despojam-no do trabalho
que o mal está sempre nele
assim o dizem
falta de instrução
inadaptabilidade
produtividade em falta
e o bólide que ele mesmo construiu à mão
pertence ao patrão
que parte em pressa súbita
Resuma-se
o culpado é a vítima
É de espantar
tão pouco o terrorismo



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A intenção é clara:
manter ignara
a gente que lhes lavra a quinta
e quem na guarda.
Sinta na farda um
a bênção do padrinho
e o outro afogue em vinho o desespero de escravo
e, quando o travo da revolta lhe amargar na boca,
a arma do que guarda não no poupa.
Dirá, então, alguém, em entrevista,
que há que velar pela paz.
É isto ou não é isto o que se faz,
pseudocamarada socialista?




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Abençoada seja a desgraça alheia
e a mão estendida que me abre as portas
do céu, ao creditar-me um Deus
na terra,
ao engraxar-me as botas.



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A obsessão do ter
mirrou-os
sujeitou-os ao chão
degradou-lhes o ser

Nem sonho nem voos
vivem só por viver





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Não lhes foi dado ver mais que o crepúsculo
e desconhecem
as noites fundas e os dias cheios de luz

Retrai-se-lhes o coração minúsculo
se aparecem
signos de prata em firmamentos nus

Medindo vontades pelo que são
deixam à sede
um mundo a constelar

Onde o sim se obscurece em não
e em não se queda
por não poder voar




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Não há sequer um porquê
nem mesmo arrepio de dúvida
Vivem no certo
na realidade da vida
na miopia do dia
Mais bichos que homens
descansam nos tempos
de uma imobilidade gelada
Pouco importa que seja
pouco importa que fosse
o futuro está escrito
no destino dos céus
O pior é a história
que convulsiona e explode
quando o servo não pode
aguentar mais
Revolução se chama
à chama






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Momento após momento,
o que não era nada
é tudo:
cavername e casco,
amurada, convés,
mastros, chaminés,
metal brunido,
soldadura perfeita,
o vidro unido na vigia estreita,
a aresta domada.
E, perfilada a quilha,
o lançamento ao mar em busca de outra ilha,
cetáceo de aço a dominar os mares

Vão, calafates, agora descansar…
que ao armador compete aproveitar, roubar



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Era cedo de mais para inventar a luz,
trazer o sol aos nus,
fazê-lo entrar pelo corpo adentro.

Ao predador sedento,
aos dentes canibais,
a noite é muito mais
arma sua,
vísceras não delatoras,
petroleiros, petrolíferas, petrodólares.



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São humildes e mansos tal os bois
e até para sorrir pedem licença;
no mundo nada há que lhes pertença,
viver é só agora e não depois.

Acasalam de inverno, regelados,
quando se extingue o fogo das lareiras;
reproduzem-se e crescem nas traseiras
da construção dos dias soleados.

Se desceram às praças do protesto
em procissão de rostos por milhares,
com a fome dos filhos no seu gesto,

é que nós nos cevamos nos jantares
e a eles só lhes cabe um simples resto,
expulsos do trabalho nos teares.





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Corre o carro cromados fugacíssimos a faiscar ao sol
e baforada nuvem em rolos de poeira mole.
Ao camponês dobrado na margueira sua
seca-se-lhe mais a boca
e aos bois que toca.
“Salve-o Deus, Senhor!” – é o que diz.
“Por mim louvado seja, que nada peço:
se a sorte assim o quis, mais não mereço.”

Quanto me dói este país unânime:
o que conduz, feliz,
e o camponês exânime.




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Bosques bordados em seiva de pinheiro
sol inteiro acalentando a rama
sama iodo.
Espaço todo para jogos de crianças
e esvaídas lembranças
de velhos a recolher sem pressa.
Diferentes dessa
outras visões mais cruas
arames puas
e portal de peagem
tabuletas na estrada
                    Vedada a passagem
                    Proibida a entrada



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Já não basta termos e eles não.
É preciso vexá-los
feri-los de desespero
açular-lhes cães e guardas.

Já não basta o insulto.
É preciso vergá-los
levá-los a encolher as mãos que um dia
ergueram alto mais alto

Não basta já ao negar-lhes a vontade
E é preciso que a fome os deixe mesmo inertes
a vegetar na merda
raiva no peito sem poder agir.

Já não basta esquecê-los.
É preciso aviltá-los.
Já não basta não vê-los.
É preciso espancá-los
roubá-los
despojá-los de tudo
          terra
                 trabalho
                           dignidade
                                           vida



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                    Coerente,
sempre fiel ao que fizera sempre,
                    o meu patrão
jurou um dia viver à nossa custa
                    e fá-lo desde então.
                    Outros,
os ditos defensores de uma vida justa,
são afinal os lobos esfaimados em peles de cordeiro
que, esquecidos hoje do que diziam antes,
                    só pensam no dinheiro.




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Órfãos do sonho, agora,
vêem-se os cavaleiros da indústria,
bandeiras desfraldando
à liberdade deles.

Curva-se o escravo aos alaridos,
olhos postos nas mãos, que não entende,
no cabo de uma enxada, nunca sua.

Nem espada nem charrua,
o que era tudo é nada.




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Tudo cria nada tem
Que o que no mundo havia
antes ainda de nascer
fora-lhe roubado também
a terra o céu o mar
o direito de viver sonhos novos
e os lobos
comida a carne
cospem-lhe os ossos
e esmoem

Que a nossa raiva se encarne
Oxalá seja





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Olham o feijão acumulado no prato
pouco importa quem entra quem sai ou quem fica
muito menos o sítio
e a vista
Curiosidade emoção
sensibilidade para fora
tudo desvanecido
frente à manjedoura
Cheia a pança
efervescente da rega
ou tinto ou branco
apressam-se a esmoer à sombra
num torpor de jiboia
Humanidade se existe
sumiu-se em acidez do estômago
Pessoas ou animais?




  
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Olimpíada do nojo
homens de rojo
a mendigar uns restos
medindo o gesto pelos gestos
de quem os manda

Execranda
a Olimpíada do ódio
sobe no pódio
o que se amarrou à trela
e não vê nela
humilhação

A Olimpíada da traição
O ideal em troca da vileza
de vir talvez a partilhar a mesa
do patrão





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Quando se nasce é tudo
um dia mais a biliões de anos
cabe num berço a criação do mundo
antes se faça herói que sujeição
homicidas são família escola a trama
que o trama
e assassina




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Incisa em tenra idade
a estupidez resulta
e nos casos não
há corrupção de reserva
cassetete em riste
e polícia bronca

Detrás
bombas canhões
e exército
se ordenado
em defesa da mentira




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Burro
          quem não muda de ideias
justifica o canalha
                    de canalhadas passadas presentes e futuras
Nojo
          nem pena nem revolta
apenas nojo nojo
se há bacoquice atenta de quem ouve e cala
Burro é de facto quem não muda de ideias
mas traidor
quem mudou de ideais
é diferença abissal




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Nascido
julgou-se eterno
e garantiu-se no céu
que o compensava das frustrações terrenas
depois
alheou-se de tudo
afirmando-se livre e criatura de Deus
a bem-aventurança de qualquer coisa nenhuma




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O destino cumpriu-se
morrendo como qualquer um
Podem erigir-lhe mausoléus de mármore
que não deixa saudade
Será enterrado de empáfia



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Há lama muita
nas palavras todas do comércio ilícito
trágico porém
não desconspurcá-las
numa nova utopia.






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Quando digo merda é mesmo merda
merda que enxovalha, merda que esparrinha.
O agora porém nem sequer é merda:
          é rasca merdinha




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Viver a mesma vida duas vezes
não me seduz a mim
muitos os erros
demasiada a sombra
o mundo a aviltar-se dia a dia
Se o sonho subsiste ainda
a hora é não
bichos e homens todos bichos são
Roma corrupta a afogar-se em nada
e lei dos bárbaros vai durar mil anos.




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Nunca viver foi simplesmente viver
que tinha a descrença uma outra alternativa.
Dos milhares de anónimos que mostraram pressa,
ficavam sonhos exemplos a vontade acesa
E, mesmo quando era céu algures,
fogueiras havia a brilhar connosco,
visíveis mesmo da sombria masmorra.
O desespero só começou depois:
um amanhã que se tornara hoje
e a luta
nos pareceu inútil.



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Perder-se-ia a razão
não houvesse
um assomo de esperança
mas tudo é pouco e tão pouco
neste mundo tão louco
de gente mansa
bovina
estupidez que cresce
alienação
ser só ou quase
só nos deixa fome.



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Dos muitos que tombaram
nenhum nos dará factura
bastou-lhes a certeza de dever cumprido
e esses incomodam
os que fizeram nada
pactuando antes
Explica-se
que do passado recente
o esquecimento seja
oculto em silêncio




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Não lhe foi dado muito
mas devolveu aos outros o que lhe coube em acção
Anos mais tarde
haverá quem lembre
ter vivido um homem



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Um gigante tombou
em tempo de anões e traidores assumidos.

Ouvimos risadas mentiras pulhice
pouco ou nada se disse
de renúncia entrega
da dignidade de um povo
redimido de novo
e repartindo o que tem
mesmo travado
na grandeza do gesto
pelo ódio que o cerca.

Há-de a história erigi-lo
não a história canalha
mas a história que valha
justiça a um justo.


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Honrado e lúcido
assumiu-se todo
grande demais num país de anões
temido
          atraiçoado
                    banido
                              enxovalhado
João Varela Gomes
esteve quase só no pensar no querer
mas
          ao contrário de outros
um dia volverá inteiro
à história da época
                              em que a desvergonha assinou




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Um passo mais foi ontem
quando olhos olhavam por em cima do desespero
e a dignidade impunha-nos vencer o medo
Lacaios havia pois cobardes sempre houve
só que do lado do nojo
Nunca entre nós.



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Rótulos diferentes mas produção a mesma
presunto a rechinar na brasa dos cabrões
água na boca do que comeu leitões

demofascismo legitimado em voto
e silêncio cúmplice de quem se vende por conta
como as putas

Relógio sem ponteiros há-de domar o tempo
abençoada seja a chuva que vier



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Existe um desejo em todos nós
assim no-lo pedissem
de servir a quantos nos servissem
voltar a pôr de pé os que caíssem
dar voz a cada voz




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Os ideais são outros
a causa não
de ter coragem e sacudir o jugo
na dignidade todos
frente ao fascismo de hoje
eu vos saúdo irmãos

irmãos de uma revolta